25/06/2008

Gaido

O medo de não saber o que ia encontrar no próximo bombom, me fez levar de presente uma caixa de sabor escolhido milimetricamente: chocolate com recheio de cerejas e licor.

Fora a certeza de estar piamente manipulando o destino - como se isso fosse possível - o sabor era ao mesmo tempo romântico e erótico e bonito e doce. Exatamente como a menina sonhou que fosse o encontro esperado por quase seis anos.

_ ...

Água pra molhar a boca, atraso de 10 minutos, calor com mão gelada, outros 10 minutos...

_ Tô aqui perto do check-in.

Vontade de sorrir até agora.

18/06/2008

retalho de uma tarde de férias

Seguindo essa fase "engraçadinha", em que as pessoas menos prováveis resolvem fazer gracinhas com essa menina, eis que hoje, a campainha toca no meio da tarde. Penso: campainha, mas sem interfone, quem será?

Era a vizinha.

Área de serviço tète a tète. Vento vem do mar, entra primeiro pelo meu apê e segue até o dela desembocando na janela da rua e refazendo o mesmo ciclo.

Eu de férias. Todo tempo do mundo para tomar banho demorado, pentear os cabelos l-e-n-t-a-m-e-n-t-e, caminhar nua pela casa e até atender a porta sem blusa - claro depois de verificar pelo olho mágico.

_ Sim, pois não.
_ Oi vizinha, tá cozinhando alguma coisa?

Se ela não me chama de "vizinha" não lembraria dela nem valendo o prêmio do show do milhão.

_ Não vizinha. Hoje nem cheguei perto do fogão
_ Ah, é que senti cheiro de queimado e pensei...a vizinha deve estar cozinhando e quando a vizinha resolve cozinhar...o desastre é quase certo.

(menina muda por 30 segundos olhando pra ela pela brecha da porta semi-aberta)

_ Bem, deve ser a vizinha de baixo.

(e desceu animadinha para "salvar o mundo", pela escada mesmo)

Recuperada da surpresa, eu grito em silêncio o mais alto que posso:

_ COMO ASSIM DESASTRE QUASE CERTO?!!!

Ai lembrei que há uns bons dois anos botei uma lata de feijoada pra esquentar em uma panela e fiquei de papo com luci no telefone. Como o vento entra por aqui e sai lá...ela sentiu o cheiro de alumínio sendo imperdoavelmente tostado. O feijão.... esse já tinha ido há muito.

Pensamento um - a culpa é do vento
Pensamento dois - ela ainda lembra disso?

10/06/2008

Enche a boca dágua, enche

Essa era a recomendação de mami quando a gente falava besteira lá em casa. Pois bem, dia desses me deu uma vontade de repetir - em caixa alta, vejam bem - essa máxima de mami pra um doutorzinho de um laboratório de análises que fazia uma ultrassom transvaginal nesta que vos escreve. Não bastasse aquele estranho ali me cutucando, e comentando sobre minhas, literalmente, intimidades, ainda tive que ouvir algumas pérolas desnecessárias. Fosse eu, Deus, por 30 segundinhos, decretaria que para fazer exames tão íntimos, o sujeito tinha que nascer sem língua ou arrancá-la fora.

Estou eu lá, deitada e tensa. O sujeito com aquele trocinho gelado pra lá e pra cá, puxando papo pra eu relaxar e tals: oh, tá lindo seu ovário direito e blá blá blá blá... Eu, sinceramente, não vejo qualquer atributo de beleza em um ovário, seja ele direito ou esquerdo, mas, sendo este um conceito subjetivo, deixa ele achar. Afinal, há gosto para tudo nesse mundo.

_ E o esquerdo, cadê o danadinho do esqueeerdo?
_ Não tá aí não? Da última vez ele estava...

Pois não estava. Segundo o doutor falastrão, 'havia uma massa compacta' - leia-se cocô - impedindo a visão do fujão. Didático como uma professorinha de jardim de infância, ele pára o que tá fazendo e começa a explicar...é nessa hora que ele podia ter enchido a boca dágua pra não falar besteira.

_ ... é a mesma coisa da gente tirar uma foto de um baixinho que está atrás de um grandão.

... pausa e silêncio.

_ Como assim, G-R-A-N-D-Ã-O? Tem grandão nenhum aí não. (onde estava minha água?!!!)
_ Grandão sim, senhorita... Actívia, já!

Pode?

04/06/2008

est-ações

Cato no cinza cheio de nuvens a quenturinha de quase todos os dias que se foi junto com as roupas largas tiradas, propositalmente, do armário. O mundo dessa menina muda no mesmo ritmo da caminhada diária no calçadão de Copacabana: amores vêm, vão, se demoram longe, re-voltam; quilos vão (e que não voltem mais); desejos renovam, outros resistem e insistem; fantasmas aparecem no meio da madrugada na janelinha do msn; sonhos nascem, crescem e quase nunca morrem; planos; planos; planos: Bélgica em 2010 é um deles.

Um cachecol verde e marrom espera - ora no cabide, ora no pescoço - o azul 40 graus que insiste em respeitar a sombra dos prédios da Princesa Isabel, antes das oito da matina.

É junho. Daqui a pouco, essa menina, vai sentir os sabores da infância, quando ela brincava de guerra de sabugos e nem imaginava que tinha muito mais mundo atrás daquela serra azulada. Lá longe.